quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Internet!

"Ao longo dos anos La Belle Verte começou a existir, a despeito de todos os obstáculos. Começou a crescer, a se impor, como um ser vivo, pela necessidade que as pessoas tinham do filme e do que ele clamava ao mundo. Apareceram sites na internet, clubes Belle Verte, grupos de pessoas que se reuniam para assistir o filme juntos e discutí-lo. Estaria eu à frente do meu tempo? Estamos, por acaso, à beira de um precipício em que se faz necessário colocar em xeque todos os nossos valores, radicalmente, para que se possa inventar uma nova sociedade?" (SERREAU, La belle verte, 2009. Imagem da contracapa do livro. trad. nossa)

O filme

Sinopse:

"Em um planeta longínquo vive um povo que se assemelha ao nosso. Tal povo se desenvolveu em direção a um retorno à natureza e privilegia a comunicação e o apoio mútuo. Depois da grande assembleia anual, as viagens intersiderais são programadas, mas ninguém quer ir para a Terra. Por motivos pessoais, Mila decide fazer uma visita aos terráqueos." (YGREC, p. 15, trad. nossa)






O filme no youtube com boa qualidade. É preciso selecionar a legenda em português. Outra opção baixá-lo através de um aquivo torrent, disseminado já em diversos blogs na internet.



Com não tão boa qualidade:

Filme La Belle Verte (Turista Espacial) - Legendado PT-BR (completo) from kraspedom on Vimeo.

Cartão de apresentação do filme:
 

Tradução dos textos:

A HISTÓRIA

Mila deixa seu distante planeta e aterriza em plena Paris. Ela encontra pessoas irascíveis que vivem em meio a um ar irrespirável e comem qualquer coisa. Essa alimentação lhe faz mal e ela precisa se “recarregar”, através do contato com recém-nascidos, dirigindo-se, portanto, à uma maternidade.
A enfermeira, Macha, e o chefe de serviço, Max, surpreendem-na. “Desconectado”, Max passa do estresse agressivo à consciência da futilidade de tanta agitação e das aparências, que era como agia anteriormente com sua mulher Florence e e seu filho Raoul. Ele sonha com o estado de felicidade que reina sobre o planeta de Mila, depois que todas as noções como lucro e pobreza foram abolidas. Bombardeados por ritmos musicais modernos, Mila os faz descobrir os prazeres da música de Jean-Sébastien Bach, que também é um enviado de seu planeta à terra, assim como, alguns séculos antes, aquele que foi crucificado pelos humanos, Jesus Cristo. Mais adiante, Max faz de tudo para permitir que Macha fique com o bebê que, abandonado pela sua mãe bósnia (pois seu pai é sérvio), deve ser confiado à DDASS.
Não vendo sua mãe retornar, os filhos de Mila, Mesaje e Masaul, decidem vir encontrá-la na terra. Um erro os faz aterrizar entre uma tribo da Austrália que, com costumes muito próximos aos da sua própria civilização, não correspondem em nada à descrição dos terráqueos feita por sua mãe. Ela comunica-lhes sua localização geográfica por uma mensagem telepática, que tem o efeito de causar uma pane em todos os aparelhos eletrônicos do ambiente. Ela lhes acolhe em Paris junto com Macha e sua irmã Sônia. Os rapazes se apaixonam imediatamente pelas irmãs e levam-nas consigo para o seu planeta junto com o bebê.

A PEQUENA HISTÓRIA

Coline Serreau já havia feito o papel principal de um filme, junto com Francis Perrin, mais de vinte anos antes desse que agora lança. Tratava-se de ON S'EST TROMPÉ D'HISTOIRE D'AMOUR (Estávamos errados sobre uma história de amor), do qual também foi co-roteirista, em companhia do diretor Jean-Louis Bertucelli. Tendo oferecido um papel, pequeno mas de destaque, ao seu antigo parceiro, ela pôde reencontrar também alguns intérpretes de seus filmes precedentes, principalmente os de La Crise: Vincent Lindon, Patrick Timsit, além de Didier Flamand, sempre na figura de homem político. Formada na sua juventude tanto em música quanto em teatro, ela própria escreveu a trilha sonora do filme, que também conta com músicas de outros compositores modernos e clássicos. Muitas cenas do filme proporcionam o encontro com artistas de todo tipo, dançarinos, músicos (“Le Quatuor” [quarteto musical humorístico]), cantores, ou, como no caso dos dois intérpretes dos filhos de Mila, acrobatas de circo (da troupe de Annie Fratellini). A escolha do elenco ficou a cargo de Margot Capelier, veterana nessa área, que também aparece, ela própria, entre os habitantes do outro planeta, durante a cena de abertura, rodada em Auvérnia, sob as encostas que levam a comuna de Volvic.

Bibliografia comentada

BIBLIOGRAFIA CENTRAL:

*  ANSELMI, Michele. "La Terra? No grazie, mi rende nervosa". l'Unità, 4 de maio de 1997.
Michele Anselmi definitivamente não gostou muito do filme. Apesar disso, pôde fazer comentários bastantes lúcidos, apontando algumas intertextualidades entre La Belle Verte e outros filmes. Lembra da semelhança do filme de Serreau com O Planeta azul (Franco Piavoli, 1981), ambos ligados à natureza - atenção para o fato de que em italiano o título de La Belle Verde é Il pianeta verde (O planeta verde). O artigo também sugere uma analogia entre Belle Verte e Os visitantes (Jean-Marie Poiré, 1993). Em Os Visitantes temos duas figuras que fazem uma viagem no tempo, de 1123 à 1993, o que engendra diversos conflitos. Eu particularmente achei Os Visitantes bem menos crítico, atrelado muito mais à mímica dos personagens e à admiração pura e simples do “Mundo Novo”. A articulista também critica a falta de ironia com relação ao Planeta Verde, representado como uma lugar perfeito: “Coline Serreau se faz muito séria. E se tem razão em observar os costumes ambientais e alimentares dos terráqueos, querer-se-ia que se aplicasse também um pouco de ironia à utopia do Planeta Verde.” Por fim, Michele conclui: “Mas, francamente, Coline Serreau, atriz mediana e diretora espirituosa, já fez melhor no passado.”
Link para o texto: http://archiviostorico.unita.it/cgi-bin/highlightPdf.cgi?t=ebook&file=/golpdf/uni_1997_05.pdf/04SPE03A.pdf&query=serreau

*  CARFANTAN, Serge. La Belle Verte de Coline Serreau - sur le thème nature e culture. Philosophie et spiritualité, 2002.
Breve ensaio sobre o filme com algumas arguições de telespectadores ao final. Com análises inteligentes, abordando vários aspectos sociais. Aqui um trecho sobre a "desconexão":
"Na verdade, "desconectar", aqui quer dizer desligar um indivíduo de um sistema que o vampiriza, nutre e envenena ao mesmo tempo. Mas não o tira do real para submergi-lo em uma ilusão e, sim, liberta-o da ilusão de uma vida falsa e artificial e o reconecta ao real, ao sair da alucinação cotidiana. Desconectar não significa mergulhar num sonho, mas sair do pesadelo da vida cotidiana; viver verdadeiramente com uma lucidez mais refinada, uma sensibilidade mais viva, um amor mais verdadeiro e sincero. É regressar à natureza, uma vez que somos, da cabeça aos pés, um produto cultural, um tipo de máquina moderna alimentada pelo sistema social."
Link para o texto.

*  FERREIRA, Wilson Roberto V.. Mitologia Ufológica e Gnosticismo na ficção científica francesa "La Belle Verte". Cinema Secreto: Cinegnose, 4 de maio de 2011.
Chamou-me a atenção a relação feita entre Mila, a protagonista de Belle Verte, e o ser mitológico Sophia. Na tradição gnóstica, Sophia é uma figura feminina análoga à alma humana, mas que também encarna alguns aspectos femininos de Deus. De sua parte, Mila também apresenta certa hibridez, sendo uma mestiça, pois sua mãe era terráquea.
"[...] a grande virtude do filme "La Belle Verte" é apresentar essa gnóstica desconexão não como um fenômeno de reforma puramente íntimo, místico ou abstrato. A desconexão implica numa ação sociopolítica de quebra da ordem: a negação dos papéis sociais prescritos pela sociedade ao ponto de produzir anárquica contestação da hierarquia e desobediência civil." Link para o texto: http://cinegnose.blogspot.com.br/2011/05/mitologia-ufologica-e-gnosticismo-na.html

*  HORGUELIN, Thierry. La Belle Verte. 24 Images, nº 85, 1996-1997.
Link para o texto:
http://www.erudit.org/culture/images1058019/images1080729/23572ac.pdf

*  LAMOUR, Mathieu. La Belle Verte: un outil pour dessinir une renaissance [O Belo Verde: uma ferramente para desenhar o renascimento]. AgoraVox, 2012. Link: http://www.agoravox.fr/culture-loisirs/culture/article/la-belle-verte-un-outil-pour-113323
"Sob a forma de um conto filosófico, o filme aborda temas tão variados como anti-conformismo, ecologismo, decrescimento, feminismo, humanismo, pacifismo, valores sociais e também o repúdio a tecnologias nocivas, por meio do diálogo e de situações humorísticas."
"Através da visão de um visitante longínquo, nossas premissas são alegremente ameaçadas pela exposição de nosso quotidiano muitas vezes sem sentido. A habilidade da crítica está em usar a inocência e a incompreensão mais do que julgamentos e condenações. Isso confere ao filme uma série de situações cômicas, tão engraçadas quanto intrigantes: primeiro rimos, depois refletimos."

*  MANDOLINI, Carlo. La Belle Verte - Entre Hale-Bopp et Sirius. Critiques, nº 191, 1997.
Link para o texto:
O texto lembra que Serreau, com o filme, aborda, criticamente, muitos aspéctos de nossa sociedade: o fracasso humano, a ansiedade pos-moderna, a toxicidade. Predica, ao final, de que o século XXII só será possível se atentar à algumas demandas de câmbio social, sugeridas no filme.
"Pois, apesar do seu discurso ser bastante simples, gentil e divertido, La Belle Verte é a história de um fracasso, o fracasso da espécie humana."
"Serreau parece, na verdade, querer voltar às origens (isso é bem evidente nas primeiras cenas, muito interessantes, por sinal) para construir um novo paraíso para a humanidade."
http://www.erudit.org/culture/sequences1081634/sequences1142205/49317ac.pdf

*  MASTROIACOVO, Raffaella. Il Pianeta Verde. reVision, 1997.
O texto se inicia com uma resenha bastante completa do filme. Comenta-se o fato, que eu não havia percebido, de que o artifício de recarregamento com recém-nascidos também é uma espécie de programa, assim como o programa de desconexão, enviado junto com Mila em sua expedição a terra. Muito interessante a comparação com outros filmes de Serreau, detectando-se a recorrência da figura do personagem puro, imaculado, "assolutamente incontaminato", que vai atuar como motor de uma tomada de consciência sobre o absurdo e a hipocrisia. Em La Crise temos o mendigo, em Três solteirões e um bebê temos o próprio bebê, em Romeu e Julieta temos a senhora africana, que se mostra mais esperta que o seu patrão, homem de negócios. Em La Belle Verte temos Mila, claro. Por fim, a articulista compara o começo bucólico do filme à um certo estilo pasoliano e sugere que o final, dançante e circense, seja uma homenagem a Fellini, caro a desfechos movimentados. "À parte alguma ingenuidade e alguma banalidade, que mantêm a fé nos discursos programados, o filme se faz lembrar, de bom grado, graças à jocosa comicidade de muitas cenas e a total veracidade do assunto inicial: estamos num estágio evolutivo muito 'Terra Terra'."(Mastroiacovo)
Link para o texto: http://www.revisioncinema.com/ci_verde.htm

*  ROLLET, Brigitte. Coline Serreau. Manchester University Press, 1998.
Sobre a diretora como um todo. Biografia, catálogo de obras e análises. Ótimas reflexões sobre Belle Verte, apontando algumas intertextualidades com Voltaire (Cândido) e Rousseau (Emílio, Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens).

*  SCHILLACI, Fillippo. Il Pianeta Verde, quando il cinema guarda lontano [O Planeta Verde, quando o cinema enxerga longe]. Terra Nauta, 4 de fevereiro de 2010.
Muito bom artigo. Vai apontar alguns pontos bastante interessantes. Ele detecta, por exemplo, um rompimento de paradigma no que tange os filmes de ficção científica, acostumados a relacionar civilizações avançadas à tecnologia abundante, engenhosa e de presença constante: “Eles [os verdes], que traçam um impetuoso retrato de tudo o que é descrito em nossos livros de história como motivo de orgulho [...], são exatamente o contrário do estereótipo de civilização super-avançada que estávamos acostumados a ver em setenta anos de filmes de ficção científica”. Achei muito feliz também a observação de que o começo do filme faz uma fusão de olhares - humanos e não humanos - somados a água, terra, vegetação, numa evidencia de que estamos todos aparentados, formando um uno (tenho pra mim que o programa de desconexão busca, no geral, justamente nos “reconectar com o uno”). Uma ressalva que Schillaci faz é ao uso das faculdades paranormais, dando um tom demasiado inverossímil ao filme. De certa maneira ele tem razão. Mas o fato é que, se você for analisar, o uso das nossas faculdades mentais (sobretudo no ocidente) é extremamente limitado. Alguns sadhus e yogis da índia podem fazer coisas impressionantes, com treino mental, o que poderia simplificar muitos problemas hoje resolvidos através de instrumentos e remédios, como o controle da dor, do estresse, a auto-cura, para citar alguns exemplos. Todo mundo conhece o poder da fé, todo "médium" sabe que pode usar a fé de um fiel para lhe "curar" (geralmente apenas a dor é controlada), a medicina moderna admite não ter respostas para muitos desses casos, por que não estudar, à sério, tais fenômenos, e incluir essas técnicas ao nosso cotidiano? Poderíamos admitir até mesmo a telepatia, se houvessem mais estudos, silêncio e menos poluição de toda ordem. Telepatia é aquele tipo de coisa que todo mundo sabe que existe, em certo nível (baixo?), mas ninguém sabe como funciona exatamente. Por fim, o articulista comenta dois textos veiculados à época do lançamento de La Belle Verte, concluindo que: “Os jornalistas do planeta terra parecem alérgicos à ideia de uma humanidade 'suave' e 'livre da barbárie'. Coisa de maricas, obviamente; na barbárie, parecem sugerir, há certamente mais vigor, mais variedade, mais movimento.”
Link para o texto: http://www.terranauta.it/a1788/cultura_ecologica/il_pianeta_verde_quando_il_cinema_guarda_lontano.html

*  SERREAU, Coline. La belle Verte - scénario et postface de Coline Serreau. Actes Sud, 2009.
Livro com o roteiro do filme e posfácio de Coline. O posfácio fala da trajetória do filme, da dificuldade de arrecadar verba, do material teórico para montar os personagens etc. Vários trechos do roteiro original não foram para o filme, então podemos encontramos diálogos mais abrangentes. O livro acompanha um DVD (legendas em inglês) com muitos extras e com o trailer oficial.
Link para comprar: http://www.sosculture.net/56-dvd-la-belle-verte-9782742782901.html

*  YGREC. "La Belle Verte" - Retrouver sa nature [A bela verte - reencontre sua natureza]. Collection "De l'oeil à L'Être", 2009.
Breve apanhado sobre o filme. Faz um estudo de personagens e de algumas cenas pontuais. Também há uma entrevista com telespectadores.
Livro no google.
Conteúdo e links para comprar.

BIBLIOGRAFIA PERIFÉRICA:

*  HENRY, Thoureau. A desobediência civil, 1848.
Quando os "verdes" se recusaram a utilizar meios que lhes causassem danos, estavam praticando uma forma de desobediência. Este livro é um ensaio que trata de como discordar de padrões impostos e fixados, sociais e políticos, principalmente.
Você pode achá-lo na biblioteca mais próxima, ou em muitas fontes da internet.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Indústria e desperdício

"Os homens primeiro sentem o necessário, depois atentam para o útil, em seguida advertem o cômodo, mais adiante deleitam-se com o prazer, daí dissolvem-se no luxo, e finalmente enlouquecem dilapidando o substancial." (Vico via A. Bosi)
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Apesar de possuírem uma tecnologia avançadíssima, com direito a viagens inter-estelares e programas de desconexão, tais recursos entre os "verdes" são usados com comedimento. O uso da tecnologia é limitado, o mínimo necessário é investido para saciar necessidades básicas e fundamentais. Não se podem deixar, de todo, alguns utensílios de uso corrente, mas até mesmo o acesso ao fogo é restrito, utilizado uma vez ao ano para forjar facas. Antes o que havia era o que eles chamam de "era industrial", que se encerrou através de boicotes e de processos judiciais contra fabricantes de produtos nocivos aos seres humanos, animais e plantas: indústrias agro-alimentares, químicas, indústrias de tabaco e álcool, farmacêuticas, nucleares, arquitetos, muitos médicos e políticos que enriqueceram com isso. Na utilização da tecnologia o que impera é o bom-senso, são os objetivos comuns que devem ser levados em conta e não um objetivo individual, como antes se fazia, que proporcionava o enriquecimento de um número pequeno de indivíduos e corporações, através da "produção em massa de produtos inúteis", artificiais, tóxicos, de difícil absorção pela natureza, que quando descartados causam sérios danos ao meio ambiente. Para compensar o desprendimento tecnológico, a energia é direcionada ao devolvimento das potencialidade naturais do ser humano, como o fortalecimento do corpo, das faculdades mentais, dos sentidos. Mas sem tecnologia não há cinema, de onde podemos deduzir o caráter "anti-art" de La Belle Verte, corrente que tem bases já antigas, como o movimento situacionista Frances, encabeçado por Guy Debord, que, grosso modo, vai criticar justamente o "american way of life" alienante e consumista.

Júnior Vidal
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"Criaturas humanas! Vós, que cometeis
desnecessariamente erros inumeráveis,
ousais ser professores de tantas ciências!
Coisa nenhuma escapa à vossa diligência,
às vossas descobertas, mas há uma arte
que ainda não sabeis e que não perseguis:
é ensinar o bom-senso a quem carece dele."


(discurso de Teseu, da peça Hipólito, de Eurpipedes)


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Sobre boicotes e processos:

Coline Serreau

Cartão informativo sobre a diretora:


Tradução nossa do texto:

Coline Serreau

Notícia Biográfica

Filha do diretor de teatro Jean-Marie Serreau e da escritora Geneviève Serreau, Coline nasceu em Paris, em 1947. Depois de completar o ensino secundário, ela estudou Literatura, aprendeu órgão e musicologia no Conservatório1, trapézio na escola de circo2 e iniciou-se na dança, clássica e moderna. Optou, finalmente, pela arte dramática, tornando-se aluna de Andréas Voutsinas.
Em 1970, estreou no Théatre du Vieux-Colombier e apareceria pela primeira vez frente às câmeras em um filme de Robert Enrico, Un peu, beaucoup, passionnément [Bem-me-quer, mal-me-quer3]. Sua carreira de comediante foi lançada principalmente sobre os palcos onde encarnou as heroínas de Shakespeare, em Sonhos de uma noite de verão, Como lhe aprouver, Othelo – onde ela é Desdêmona. Atuou também em peças de Coluche, Romain Bouteille, Pirandello, além de peças de sua própria autoria. Ela obteria seu grande sucesso teatral, de fato, com Quisaitout et Grôbeta, peça criada em 1994, a qual escreveu e atuou, reservando-lhe um papel de clown.
No cinema, é o destaque de On s'est trompé d'histoire d'amour [Estávamos errados sobre uma história de amor] (1974), de Jean-Louis Bertucelli, com quem dividiu o roteiro. Devido à sua genuína vocação, Coline não tardou em realizar seus próprios textos. Ela traçou seus caminhos atrás de uma câmera com um curta-metragem ficcional feito para a televisão, Le rendez-vous [O encontro] (1975). Voltaria às telinhas, em 1979, com a reportagem, Avós de Islã, e o espetáculo Édipo Rei, de Sófocles, montado para a TV italiana RAI.
Enquanto fazia suas duas incursões televisivas, ela realizou o desejo de assinar, para o cinema, dois longas-metragens, Mais qu'est-ce qu-elles veulent? (Mas o que é que eles querem?) e Porquoi pas! [Porque não!]. O primeiro é uma montagem de entrevistas com mulheres. Apresentado no festival de Cannes de 1977, valeu à sua autora a reputação de cineasta feminista. O segundo, que coloca em cena um ménage à trois (com Sami Frey, Christine Murillo e Mario Gonzalez como intérpretes), é uma fábula repleta de encanto e humor sobre a liberdade sexual e a intolerância.
Em Qu'est-ce qu'on attend pour être heureux! [O que esperamos para ser feliz!], os figurantes de um comercial de televisão fazem uma greve e raptam o produtor que os explorava. Ao final de uma noite de luta e festa, todos aprendem o sentido de palavras como amizade e solidariedade.
Coline Serreau enfrentou muitas dificuldades para estabelecer seu próximo projeto: a história de três solteirões confrontados à chegada inesperada de um bebê, que chacoalhou o conforto e os hábitos dos rapazes. Com a interpretação de um trio eficaz – André Dussollier, Roland Giraud e Michel Boujenah – Trois hommes et un coufin [Três solteirões e um bebê] foi um verdadeiro sucesso, não apenas na França, mas em todo o mundo, diferentemente do trabalho seguinte, Romeo e Julieta, que experimentou um triste fracasso. O grande público mostrou pouco interesse por essa sensível defesa em favor da tolerância: um PDG4 (Daniel Auteuil) e uma funcionária da limpeza noturna amam-se como um par perfeito.
Coline Serreau reencontrou o sucesso com La crise, que esboça a análise de uma sociedade desordenada. O desmembramento da família, o egoismo, a indiferença e a incomunicabilidade são descritos com humor, mas não sem os percalços amargos de Vincent Lidon, sejam profissionais, sociais ou sentimentais. A cineasta confirmou seus dons de observação e seu talento de fabulista, já nos títulos de seus filmes: Qu'est-ce qu'on attend pour être heureux! [O que esperamos para ser feliz!] e Porquoi pas! [Porque não!]5
Por fim, em 1996, volta a manipular as câmeras, mas também se a mantém à frente delas: ela interpreta uma cândida extra-terrestre, desvelando nossa sociedade de consumo, com o filme La belle verte [A bela verde], do qual é também autora e diretora.6

NOTAS:

1  O texto não especifica, mas trata-se provavelmente do conservatório de Paris.
2  Sabe-se que estudou na Escola Nacional de Circo Annie Fratellini.
3  Referência ao jogo de arrancar pétalas de uma flor.
4  Presidente, diretor-geral de uma empresa.
5  Não parece muito claro porque citar apenas esses dois títulos, sendo que outros também revelam um tom moral, como Mas o que é que eles querem!
6  Após a publicação desse cartão informativo, Coline Serreau lançou muitos outros filmes. Um deles, o mais recente, de 2010, é o documentário Soluções locais para uma desordem global, que desperta nosso interesse por tratar de questões ambientas, tema que também desponta em La belle verte. Você encontra a filmografia completa dela aqui: http://fr.wikipedia.org/wiki/Coline_Serreau.

Algumas imagens da diretora do filme:
Da esquerda para a direita: Line Renaud, Rachida Brakni e Coline Serreau. 




Nas gravações de Romeu e Julieta, 1989.


Em Qu'est-ce qu'on attend pour être heureux! (1982)

Em Porquoi pas! (1977)  

Em On s'est trompé d'histoire d'amour (1974)

Em Qu'est-ce qu'on attend pour être heureux! (1982)

Em La Belle Verte (1996)



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Apresentação/uso

Olá! Blog dedicado ao filme La Belle Verte (1996), dirigido por Coline Serreau. O intuito é divulgar tudo sobre o filme (muita coisa?). Links, bibliografia, vídeos, entrevistas, coisas sobre o filme e os assuntos que o mesmo tangencia. Há alguns textos/análises minhas também. Nem todas as referências estarão em português, mas alguns textos eu traduzo. Não entendo bulhufas de Webdesign,  então me perdoem pelo layout lacônico, ou algum problema que venha a aparecer nesse sentido. Este blog está  em constante construção, estou sempre acrescentando informações que encontro e ainda faltam textos para publicar e concluir. Muitos posts contém spoilers, então convém assistir o filme, se você ainda não assistiu, antes de navegar por aqui mais livremente. Se você for utilizar um texto do blog, preferencialmente comunique antes, e, claro, de a referência da fonte, assim outras pessoas interessadas poderão chegar aqui. Os Marcadores são uma boa ferramente de navegação. Espero que seja útil. E agradável!